Estamos vivendo tempos diferentes. Muitas informações competindo por um minutinho da nossa atenção. Enorme velocidade em se comunicar absolutamente tudo. E pouco cuidado com a veracidade das publicações. Sim, hoje tudo é publicação. Tudo e qualquer coisa é tornado público com muita facilidade. E compartilhado e repostado, com pouca ou nenhuma atenção ao conteúdo que se reproduz.

Gosto muito das publicações do filósofo Mario Sergio Cortella, reproduzindo pensamentos famosos com a pequena pergunta “será?” no texto. Duvidar sistematicamente é um exercício que deveríamos fazer sempre, para evitar a disseminação de falácias e notícias falsas.

Recentemente correram dois textos pelas redes sociais, que chamaram muito a minha atenção. Um deles era atribuído a uma escritora irlandesa, Kathleen O´Meara, que viveu no século IX. O texto é um poema sobre a pandemia de COVID-19, escrito na verdade por uma professora americana, Catherine M. O’Meara, no ano de 2020. A falsa atribuição vinha acompanhada da frase: “E pensar que esse poema foi escrito em 1869” como forma de chamar a atenção e “viralizar”. Difícil falar sobre a intenção de quem fez a primeira publicação do texto. Será que realmente não sabia que estava criando uma notícia falsa? Duvido!

O segundo texto é um trecho do livro O Encontro Marcado de Fernando Sabino, brilhante escritor mineiro do século XX:

“De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.”

Esse texto foi exaustivamente, e erroneamente, publicado e repostado como se tivesse sido escrito por Fernando Pessoa, poeta português, também do século XX.

Por que comento esses casos? Porque pessoas de excelente formação educacional reproduziram essas publicações, sem verificar se estavam sendo precisos ao disseminar a informação.

Isso me leva ao objetivo desse meu texto. Falar dos benefícios da dúvida e da necessidade de olharmos criticamente para tudo o que lemos, ou ouvimos, ou vemos. Verificar as fontes, procurar outras opiniões, entender os fundamentos de opiniões diversas.

As informações falsas, criadas ou não com a intenção de causar prejuízos, são extremamente danosas. Geram exércitos de pessoas que têm atitudes extremadas, baseadas em conceitos que não resistem a um exame um pouco mais minucioso.

O que foi que aconteceu com a capacidade de pensar? Vamos ressuscitar uma de nossas maiores faculdades humanas? Vamos duvidar um pouco mais, nos informar um pouco mais? Temos hoje tanto acesso a tantos dados, disponíveis na ponta dos nossos dedos. Duvidar traz sempre benefícios. Duvidar gera novos conhecimentos, mais bem fundamentados. A dúvida nos leva a aprender mais. E aprender mais, e sempre, é que nos leva a crescer e fazer mudanças positivas em nossa realidade.